Memória

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Instruir-se pela leitura não serviria de nada e refletir seria impossível se a memória não retivesse e não nos apresentasse no momento oportuno o que deve prestar serviço a nossa obra e ao trabalho do espírito.

(A vida intelectual, por Sertillanges)

Algumas pessoas, como foi o caso de São João Bosco, gozam de uma memória muito privilegiada; outros não a têm; a maioria a tem de forma medíocre. Por isso não podemos julgar a inteligência de alguém segundo sua memória, mas devemos reconhecer que quem a tem de forma ampla, goza de um recurso muito valioso.

Na Antiguidade, tempo que não havia papel, imprensa, muito menos computadores e internet, a memória era de extrema importância. Hoje, infelizmente, se exige pouco da memória. Mas podem ter certeza: isso nos é muito prejudicial.

Mas o que devemos reter na memória? O próprio Sertillanges responde dizendo que devemos memorizar tudo quanto pudermos, desde que nos seja útil. Sobrecarregar a memória com informações e dados inúteis perturbam o espírito, prejudica a imaginação e a atenção.

É preciso procurar memorizar tudo o que exige o nosso trabalho, nosso dever de estado, nossa crença.

Vê-se notícias de um que sabe de memória centenas de casas decimais do número pi, o outro que decorou a lista telefônica, ou ainda um que decorou a sequência de milhares de cartas de baralho. Mas isto para quê? Dinheiro? Vaidade? Entrar para o mundo dos recordes?

Será que o bom católico sabe de memória os salmos? Alguns versículos? Poesias escritas pelos santos? E isto para quê? Pois eu lhe respondo: para edificar a alma e santificar a vida de trabalho e oração mediante essas divinas palavras.

Mas não é somente a vida espiritual que precisa da memorização: a vida prática também precisa dela.

Memorizar as tabuadas desenvolve o cálculo mental, facilita o raciocínio rápido e ajuda no aprendizado de conteúdos mais difíceis de álgebra, geometria e física, por exemplo. Como apender a divisão se o estudante ainda não decorou as tabuadas de multiplicação?

E para quê memorizar textos, poesias? Para aprender estruturas gramaticais, para aprender novos vocabulários. Alimentando assim o nosso cérebro, com o tempo, fazer uma composição, redigir um artigo ou ainda fazer leituras de textos mais elaboradas, tudo isto se tornará mais natural.

Como entender o milagre de Covadonga (esse nome lhe é familiar?) e a batalha das Termópilas (na Grécia) sem conhecer a geografia desses lugares? Precisamos ter na memória os nomes dos países, capitais, datas, personagens históricos, aspectos geográficos. Todas essas informações são importantes para se localizar geograficamente, se localizar no tempo, relacionar fatos e acontecimentos.

Estudos dizem (e nós mães sabemos disso melhor que ninguém) que as crianças têm uma capacidade de memorização muito maior que a de um adulto, e nos anos iniciais essa capacidade é ainda maior. Dorothy L. Sayers escreve em seu artigo As ferramentas perdidas do aprendizado (Lost tools of learning) “A observação e a memória são as faculdades mais vivas neste período.”

A memorização é uma ferramenta de extrema importância para ensinar nossas crianças a aprenderem por si mesmas. Não façam pelas crianças o trabalho que elas mesmas podem fazer, senão todo este esforço para educá-las na vida intelectual será em vão.

Maria Aparecida Garbin

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